“Foi muito bom te encontrar, Senhora”, disse o jovem submisso e masoquista.
Ela ainda estava se acostumando com a megalomania. Com a ambição. Com o desejo de controle. Com o sadismo físico e emocional que carrega dentro de si. Com a vontade de ser cultuada, venerada. Com a vassalagem que agora lhe oferecem, após uma vida toda de prazeres negados e de doar-se sem a mínima reciprocidade…
Ela e o rapaz se conheceram, fizeram seus acordos, falaram sobre seus limites (e isso serve para qualquer relação, né?). E com o tempo, com uma confiança mútua surgindo, ele se tornou em cena exatamente TUDO que ela queria:
– tapete;
– mesa;
– capacho;
– brinquedo;
E ele a servia com toda alegria, devoção e tesão.
“A Senhora mistura força com ternura”
“Quem lhe deu permissão para falar?”
Tudo isso era muito gostoso, mas a deixava confusa. Se engana bastante quem pensa que o **top está sempre seguro, que acerta sempre, que ele é sempre superior e imune às traquinagens da dúvida. O top é humano e humanos erram/cometem gafes e a única coisa que nascem sabendo fazer é chorar. Fora a responsabilidade gigantesca que é cuidar de alguém que lhe entregou seu corpo…
Ele pede permissão para gozar. Às vezes ela deixa, noutras não porque nem sempre o capacho merece. Acabam as sessões e começam os beijos. Ora tímidos, ora ardentes. Desviantes. Não normativos. Nada convencionais, mas repletos de intensidade.
Beijos de Rainha.
“Foi muito bom te encontrar, Senhora”, disse ela para a rainha insaciável, mimada, egocêntrica, sádica, carrasca, visceral e transformadora que vive dentro dela.
* Texto em comemoração ao 24/7, dia internacional do BDSM.
** Top: pessoa que numa cena bdsm assume a posição de comando, podendo ser dominador ou não, dentro dos limites do bottom (quem se submete às ações na cena).